SAMUEL PENIDO E
SUAS SOMBRAS
Caio Porfírio
Carneiro
Samuel Penido
Faleceu no dia 26 de maio último,
nesta capital, o poeta e escritor Samuel Penido, secretário-geral da União
Brasileira de Escritores. Dedicou-se à vida da entidade. Ocupou vários cargos
de diretoria, elegendo-se secretário-geral na segunda gestão de Fábio Lucas, em
10 de março de 1998. Continuou na secretaria-geral nas duas gestões seguidas de
Cláudio Willer, e veio a falecer no segundo mandato de Levi Bucalem Ferrari,
caminhando para os dez anos seguidos no exercício do cargo. As eleições
seguidas para ocupar a mesma função deveram-se à sua eficiência e dedicação à
vida da UBE, e colaborava com assiduidade no Linguagem Viva,
particularmente com poesias e contos. Pensava mesmo reunir os contos, curtos e
muito bem elaborados, de linha psicológica, em livro.
Samuel
Penido era uma criatura simples, cordata, extremamente calmo, pontual nas suas
obrigações. Participava dos eventos literários. Tomou parte em várias comissões
julgadoras de concursos literários.
Mas
pouco se fazia notar, dada a sua modéstia. Não levantava a voz nas discussões
mais ásperas, mas dificilmente abria mão dos seus pontos de vista, embora não
fosse um espírito renitente, antes um conciliador.
Foi
uma grande perda para as letras nacionais, porque ele nada devia ao que de
melhor se faz na poesia brasileira, além de excelente prosador. Vivia para as
letras, e trabalhava suas criações com paciência e determinação de um
perfeccionista, lutando com as palavras, sem cair no artificialismo,
perseguindo sempre a essencialidade poética, que ele descobria até nas cinzas
do cigarro que fumava, andando na rua, olhando para o chão.
Samuel
(de Araújo) Penido nasceu em 15 de setembro de 1934 na cidade de Oliveira,
Minas Gerais, e veio muito moço para São Paulo. Advogado formado pela USP,
Lecionou Cultura Literária na Faculdade Cásper Líbero. Poeta, contista,
cronista, teatrólogo e crítico. Publicou os seguintes livros de poesias: A
Difícil Messe, 1963; Hora Selva, do mesmo ano; Da Solidão e da
Comunhão, 1967; Lubelis, 1973; Caos, Nostalgia e Lances, 1978
(Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras); Cantos da Metrópole,
1984; A Noite Brilha, 1990; Um Homem e Suas Sombras, 2002.
Presidiu o Clube de Poesia de São Paulo, onde instituiu o prêmio Cassiano
Ricardo, de Poesia. Figura na Enciclopédia de Literatura Brasileira e no
Dicionário Literário Brasileiro.
Trabalhava
num novo livro de poesias, com a sua conhecida paciência e calma, e dizia
sempre que seria o seu último livro. Mas isto ele afirmava quando elaborava os
livros anteriores. Se não tivesse falecido, o próximo livro viria a público e
ele iniciaria outro, embora repetisse o mesmo refrão, porque a Poesia para ele
era uma segunda natureza.
Por
pouco não ganhou o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, com o livro Um
Homem e Suas Sombras, ficando entre os finalistas.
Foi
um poeta de vida longa na poesia e parcimonioso no lançamento de livros. Sempre
que lançava um, após anos de interrupção entre o anterior e o último, mostrava
a que veio. Nada em Samuel Penido, no campo da poesia, é menor, embora num
simples verso. Pouco vimos poeta assim; pouco vimos tanta poesia em poeta como
este.
Valendo-se
de linguagem “nobremente simples”, liberta de metáforas enganosas, como que
“desconversando”, suas criações, todas notáveis, desdobram-se para o
fotográfico, a solidão e o filosófico. E desse treliçamento ou destreliçamento
abrem-se aos olhos e à alma do leitor a vida que nos vem de fora e sua impulsão
que vem de dentro para fora.
Temos
nele o romântico e o lírico, na melhor percepção deles; temos nele não
propriamente o mágico, mas segmentos de magias que porejam os poemas de
“banhos” de poesia. Um poeta contido, mas não elíptico. Mergulhava fundo na
paisagem urbana e em detalhes de vida ou de naturezas mortas que o cercavam. Ou
seja: em tudo que via... via além do que via, com aquela densidade e até
puridade criadora que levam à própria perplexidade. Personalíssimo e universal.
É – sempre foi – um dos maiores poetas do nosso universo poético. Necessário
espaço maior para estudá-lo.
Casado
com Pérola Emília Liberato Penido, não tiveram filhos. Aposentado no cargo de
Oficial Avaliador da Justiça do Trabalho.
Com
a sua morte, perde Linguagem Viva um dos seus assíduos colaboradores e a
literatura nacional um dos seus grandes expoentes.
secretário administrativo da
União Brasileira de Escritores.