Manjar dos Deuses Italianos
Segunda-feira é dia de
Virado à Paulista, entretanto não tenho o hábito de seguir regras. Acordei com os sonhos afagando minh’alma com a polenta do Brazeiro. A madrugada foi de
devaneios porque havia combinado com Adriano Nogueira, o companheiro do Linguagem Viva, para almoçarmos no restaurante
que tem como braço direito o amigo e poeta Ludimar de
Miranda. Tal convite me deixou com água na boca pela guloseima italiana e
ansiosa para degustá-la.
A gula nunca foi o meu
forte, mas em se tratando de fina iguaria não dá para resistir à tentação.
Marcamos encontro na estação Santa Cruz do metrô para caminharmos até a Rua
Luiz Góes e, enfim, concretizar o almoço tão esperado.
Nunca uma manhã em
plena primavera foi tão longa quanto esta. As horas pareciam uma tortura
italiana e a vontade de comer a suculenta polenta aumentava a cada segundo.
Sentia o seu cheirinho, minha boca salivava e na minha mente apenas a
monossilábica hum...
Os ponteiros do
relógio não foram generosos, mas eis que chegou a hora de partir rumo ao Brazeiro. Onze
horas caminho em direção à estação Belém, entro no vagão lotado do metrô e
aprecio uma boa leitura.
Estação Sé, a
baldeação para a linha azul que me conduziria à Santa Cruz. O vagão estava
menos lotado. Viajei em pé lendo o meu companheiro de bordo e os delírios
gastronômicos me acompanhavam. Esvaziou um lugar, cedi a um senhor. Logo em
seguida vagou um lugar ao seu lado e me sentei. Ele logo puxou conversa.
-
Que
livro a senhora lê? – perguntou abaixando a cabeça
para tentar ver o título da obra.
-
A
Noite é dos Pássaros, de Nicodemos Sena.
-
É
um bom autor?
-
Sim,
é muito bom.
-
Então
vou procurar a obra. A leitura é o meu almoço. Quando estou lendo esqueço até
de comer – disse-me com firmeza.
Ele falou a palavra mágica almoço e imediatamente veio à minha
mente o sinônimo trissilábico – polenta. Concordo com ele sobre o cardápio leitura
porque já fiquei um dia inteiro em jejum lendo Guy de
Maupassant, mas hoje a Itália estava de amores com o meu estômago.
-
Quais são os seus autores preferidos? - perguntei ao amigo
de viagem.
-
Machado de Assis li e reli toda a sua obra.
Gosto muito de Rui Barbosa, dos sermões do Padre Antônio Vieira e hum... Quando
estou lendo Graciliano Ramos esqueço até da hora de dormir.
E ele me disse hum...
E a imagem da divina porção de polenta do Brazeiro se fez presente. Hummm....
- O povo precisa é de
Cultura. Ninguém morre de fome neste país. Morre-se por falta de Cultura. Temos
muita terra para plantar, pena não sabemos aproveitá-la - disse-me em tom de
oratória.
Estávamos na estação
Vila Mariana e a próxima era a tão esperada Santa Cruz, mas não poderia ficar
sem saber o nome do amigo de banco e sem lhe ofertar um exemplar do Linguagem Viva.
-
Muito
obrigado. Conheço este jornal. Pego
sempre na Biblioteca Mário de Andrade e gosto muito.
-
Obrigada. Infelizmente tenho que desembarcar. Qual é o
nome do senhor?
-
Pedro.
Pedro Carvalho Pereira. E o seu?
-
Rosani.
Até logo. Tudo de bom para o senhor.
-
A
senhora é que é a editora do jornal... Muito prazer. Tudo de bom para a senhora
também – disse-me sorrindo.
Com tanto desprezo dos
governantes pela Literatura ainda bem que existem pessoas como o senhor Pedro
para continuarmos a nossa luta pela democratização da leitura. A agradável
companhia do parceiro de viagem fez com que eu me lembrasse dos amigos Caio
Porfírio Carneiro – machadiano de corpo e alma -, de João Meireles Câmara, que mantém viva a memória de Rui Barbosa nos seus cursos de
Oratória para o Mutirão Cultural da
União Brasileira de Escritores, e de Carlos Frydman –
a veia forte do Mutirão.
Cheguei ao ponto de encontro às 11:30 horas e lá estava o amigo
Adriano. Ele que vem de Piracicaba sempre chega primeiro. Contei sobre o
ocorrido na minha curta viagem com muita empolgação.
O tempo estava mais
generoso e, em companhia do dileto amigo, a caminhada foi serena. Enfim, chegamos ao Brazeiro. Perguntamos do amigo Ludimar,
mas ele só chegaria ao meio-dia. Inquiri ao Adriano se iríamos esperá-lo para
almoçar. Sabendo da minha vontade de saborear a melhor polenta de São Paulo,
respondeu-me que não.
Acomodamo-nos na
segunda mesa, próximos ao caixa, para ficarmos mais perto do autor de Solarágua.
Enquanto Adriano foi
lavar as mãos aproveitei para pedir uma porção de polenta. Quando ele retornou
a loirinha crocante já estava sobre a mesa.
- Você só pediu a
polenta? – perguntou, já sabendo da minha resposta.
- Pedi também uma
salada.
- E o galeto?
- Vamos pedir um galeto, mas a polenta é o meu almoço.
- Mas, você não vai
comer só a polenta?
- Vou comer polenta
acompanhada de salada e galeto - falei convicta.
Hummm.... Ela estava douradinha...
Suculenta... hummmmm...
Degustava-a de olhos
fechados. O prazer e a felicidade juntos no manjar dos deuses italianos.
Hummmmmm.... Huuuuummmm.....
A segunda-feira foi
repleta de alegrias que se intensificaram com a presença do vate
gerente Ludimar de Miranda e com a do escritor Sérgio
Valente, que também foi saborear os quitutes da Casa. Pena Marigê Quirino
Marchini e J. B. Sayeg,
assíduos freqüentadores da Casa, não estarem presentes para completar o dia de
Graça.
Lembrei do saudoso
amigo Almeida Fischer, das gastronomias que fizemos. Dos restaurantes de São Paulo e de Piracicaba
que freqüentamos, provando das mais diversas iguarias.
O único prato que o
autor de O Homem de duas Cabeças deu
nota dez foi para o Bacalhau na Brasa do Restaurante
Mirante, na beira do Rio
Piracicaba.
Foi com ele que
aprendi a arte de saborear. É uma pena
que nessa época não tivemos o prazer de conhecer o poeta Ludimar
de Miranda. Tenho certeza, se Fischer tivesse conhecido o Restaurante Brazeiro, ele também daria
nota dez para a Polenta.
Discurso de Rosani
Abou Adal
– posse na Academia de Letras de Campos do
Jordão
Afonso Schmidt e sua palheta azul
Não tive a satisfação e o privilégio de conhecer
o escritor, intelectual, teatrólogo e jornalista Afonso Schmidt, portanto, não
posso dar meu depoimento sobre sua pessoa. Dizem sê-lo tímido e que só começava
a falar após o quarto cigarro. Mas creio que um escritor dotado de tanta
sensibilidade em suas criações deve ter sido um homem de notáveis qualidades.
Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado
de São Paulo, a 29 de junho de 1890. Aos 74 anos, na capital paulista, aos três
de abril de 1964, partiu com as folhas secas do outono para o outro lado da
vida, rumo ao desconhecido.
Iniciou suas primeiras letras na cidade
natal e depois veio para São Paulo estudar no Grupo Escolar do Brás e no Grupo
Escolar do Oriente. Brás e Bresser foram os bairros da cidade de São Paulo
aonde residiu grande parte de sua vida.
Iniciou na imprensa aos 12 anos e montou
uma tipografia artesanal para imprimir seu primeiro jornal intitulado de O Janota. Em 1905 ingressou na Faculdade
de Direito e abandonou os estudos porque o repórter e o escritor falavam mais
alto em sua verve. Com Oduvaldo Viana e outros editou
o semanário Zig Zag. Depois
fundou e dirigiu no Rio de Janeiro a Voz
do Povo, matutino da Federação Operária.
Colaborou em vários jornais da capital e
do interior do Estado de São Paulo. Foi redator do Jornal do Comércio de São Paulo, Diário de Santos, A Tribuna, de
Santos, Folha da Manhã e de O Estado
de São Paulo onde trabalhou por muito tempo publicando grande parte da sua
obra literária.
Schmidt fez duas viagens à Europa. Na
primeira, em 1907, conheceu as Canárias, Vigo, Lisboa
e depois Paris. Foi com poucos recursos, passou por fome e miséria, e sua
experiência foi narrada no romance A Primeira Viagem, editado em 1947. A
segunda feita nas mesmas condições da anterior foi em 1913, trabalhando em
Milão até 1914 e ao ser transferido para a França ficou bloqueado no alto do Mont Cénis e graças ao apelo do
Príncipe Dom Luís de Bragança conseguiu sair dali e retornou ao Brasil antes de
estourar a Primeira Grande Guerra em 1914. Esta sua passagem é contada no livro Bom Tempo.
Iniciou na literatura em 1904 com o folheto de versos Lírios Roxos. Em 1905 estampou Miniaturas. A primeira obra, editada por sua conta, foi o
livro de poemas Janelas Abertas, em 1911. Até os 30 anos de
idade não teve editor e foi ele quem custeou os seus livros. Nesta época era comum os
poetas e romancistas editarem seus livros e muitos se encarregavam de
vendê-los. Brutalidade, livro de contos, foi o primeiro publicado
pela Star, de propriedade poeta Paulo Gonçalves, em 1922. O livro surpreendeu
as expectativas e vendeu mais que o esperado.
Outra obra que obteve uma boa vendagem foi O Dragão e as Virgens, lançado em 1925. Schmidt se pronunciou com ironia a respeito do sucesso
de vendas dessa obra, disse o seguinte: “Por uma série de circunstâncias
imprevistas, apareceu nos mostruários quase um ano depois da crítica ter se
pronunciado. Esse livro foi muito vendido: os açougues do Brás compraram-no sem
regatear, para embrulhar filés e alcatras...”
Destaco uma passagem curiosa na vida literária de Schmidt sobre um livro
clandestino editado pela Hélio, em Lisboa, em 1948. O livro foi Os Melhores Contos
de Afonso Schmidt. Mas foi em 1951
que tomou conhecimento do fato quando um leitor lhe telefonou pedindo autógrafo
do mesmo. Depois o leitor ofereceu-o ao Schmidt com a seguinte dedicatória: “ Ao autor agradecido oferece o leitor admirado.” O fato foi
muito comentado pela imprensa.
Outro episódio que merece atenção é o romance histórico A Sombra de
Júlio Frank, editado em 1926, que só
foi colocado à venda na segunda edição.
Foi agraciado com vários prêmios literários e para não me estender não
citarei todos. Em 1924 publicou Os Impunes, contos, que foi premiado por La Novela Semanal,
de Buenos Aires. Neste mesmo ano recebeu três prêmios de uma só vez da Academia
Brasileira de Letras, com os livros A Marcha, romance, O Tesouro de Cananéia, contos, e com O irmão sem nome, trabalho inédito que foi publicado com o título de Reino do Céu. A novela O Menino Felipe, em 1948, venceu
em primeiro lugar o concurso da revista O
Cruzeiro. Foi detentor do Prêmio
Intelectual do Ano, de 1963, promovido pela União Brasileira de Escritores
e patrocinado pelo jornal A Folha de S.
Paulo, e recebeu a estatueta Juca
Pato de San Tiago Dantas, detentor do prêmio no
ano anterior.
Iniciou sua carreira como poeta, mas depois enveredou para a prosa e
deixou uma vasta obra com muitos livros traduzidos. Ele foi um dos escritores
brasileiros mais lidos no exterior. Schmidt afirmou que só escreveu versos
enquanto sua vida despreocupa de moço permitiu.
Atuou em várias gestões de diretorias da União Brasileira de Escritores,
foi membro da Academia Paulista de Letras, cadeira n. º 10, em substituição a
Gustavo Teixeira.
Schmidt foi muito elogiado pela crítica e são muitas as referências sobre
sua obra. Destaco as seguintes:
“Enquanto fez poesia Afonso Schmidt não só cultivou o parnasianismo
dominante, como ressuscitou a nota social que dormia nos livros desde o advento
desse mesmo parnasianismo, embora fosse muito ativa no decênio de 1870 e no
início de 1880. Sua contribuição mais séria ao neoparnasianismo
foi a retomada da poesia social.” Péricles Eugênio da Silva Ramos.
Sobre a obra O Canudo, novela baseada na biografia de Raul Pompéia, Herculano Pires afirmou
que “Tanto mais que Schmidt, além da afinidade literária com o biografado,
conta a vantagem de ser o romancista de São Paulo e o
historiador que todos conhecem, dotado de todos os recursos para oferecer-nos,
como realmente nos oferece em O Canudo, uma perfeita evocação da cidade que Pompéia conheceu, e na qual viveu os
anos curtos e agitados de estudante de direito, abolicionista e republicano.”
“Mas... encontrar, como leitor, tal ficcionista, é uma coisa, e boa.
Basta lê-lo, e sentir-lhe a personalidade e acompanhar a delicada urdidura das
suas histórias, e aprender humanidade, e sentir emoção; e fechar enfim o livro,
lida a última página, com todas as suas personagens e todos os seus ambientes
nos cercando, não saindo da nossa vida espiritual”. – Antônio D’Ella.
Em nota explicativa da edição Tempo das Águas, Raimundo de Menezes, afirma que
“Estes três belos episódios que ides ler, leitores amigos do Clube do Livro. Melhor recomendação não poderão ter: trazem a chancela de Afonso
Schmidt, consagrado por algumas dezenas de obras de primeira grandeza e por
quatro prêmios da Academia Brasileira de Letras. Esse é o autor que já vos
acostumastes a admirar, há tantos anos.”
“Tem Afonso Schmidt o privilégio, que redobra a sua
invulgar bagagem literária, de trabalhar pela dignificação
do ser humano. A força de sua narrativa e o segredo de sua prosa estão a
serviço desse objetivo superior e nobre.” – Mário Graciotti.
“Em verdade, através do conjunto de trabalhos literários desse autêntico
ficcionista, que tanto sabe dar sangue e nervos a criaturas imaginárias, como
sabe reviver os mortos em romances de fundo histórico, a constante presença que
avulta e se impõe, sempre sugestiva e complexa, evocativa e agitada, hoje ou
outrora, é a da Paulicéia da ternura e das lembranças de Afonso Schmidt.” –
Maria de Lourdes Teixeira.
Afonso Schmidt, um dos
maiores escritores deste século, não deveria jamais cair no esquecimento. No
entanto existem poucas citações sobre sua obra em livros didáticos embora tenha
sido importante sua presença na literatura brasileira. Sua obra tanto na área
da poesia, contos ou romance é marcada pelo seu estilo rico em linguagens,
metalinguagens, plasticidade poética, conciso, preciso e
dotado de um ritmo cadenciado. Com total domínio da língua portuguesa
narrou a cidade de São Paulo com perfeição e lapidou seus personagens de
realismo. Schmidt é um escritor que expõe suas idéias de forma limpa e clara
sem ser redundante ou repetitivo mesmo que o faça para dar ênfase. As imagens
que ele descreve são tão realistas que levam o leitor a viajar e entrar na
estória como se fosse mais um personagem. Tornam-se cúmplices da narração e se
envolvem tanto que é impossível ler apenas um livro. É impossível parar de ler
porque a leitura dá prazer e as palavras entram dentro da gente e alcançam o
nosso espírito.
Concordo com Péricles
Eugênio da Silva Ramos quanto a sua obra poética ser parnasiana e neoparnasiana, mas os seus romances, contos e novelas são
modernistas e realistas.
Devido a importância de sua obra na história da literatura
brasileira, deveria ela ser reeditada e indicada para leitura complementar nas
escolas e fazer parte dos exames de vestibular. É inaceitável o fato de seus
livros serem encontrados apenas em sebos.
Finalizo com as
palavras de Schmidt: “Já se observou que na minha palheta há muito azul. Vá
lá... Deve ser o coração do antigo poeta lírico que, tendo deixado de cantar,
dissolveu-se nestas páginas com a fécula da anileira nas poças de chuva que se
formam ao seu redor.”
Então vamos usar as suas palhetas e fazer com que o azul do seu coração venha se expandir em todos os cantos deste Brasil. Vamos nos banhar nas poças de chuvas para resgatar sua obra. Vamos por mais um pouco de azul para despertar a memória literária. É nossa obrigação pintar de azul todos os brasileiros para não deixar que a obra de Afonso Schmidt fique restrita apenas a intelectuais.
A Imprensa e o Timor Leste
O Timor
Leste desde a sua ocupação pela Indonésia em 1975 não foi notícia na imprensa
brasileira até o massacre ocorrido no Cemitério de Santa Cruz, quando jovens
foram depositar flores no túmulo de Sebastião Gomes, militante nacionalista
assassinado pelo exército no início de novembro de 1991, com cerca de cem
mortos. Na ocasião foi gravado um vídeo clandestino intitulado Massacre a Sangue Frio cujas imagens
puderam ser levadas para todo o mundo.
Passou por um período
de esquecimento e voltou a ter um bom destaque com o Prêmio Nobel da Paz
destinado a José Ramos Horta e ao bispo Dom Ximenes Belo, em 1996. As notícias
sobre o Timor publicadas esporadicamente na imprensa
brasileira ocuparam pequenos espaços e após o "Referendo" em Timor, em 1999, passou a receber mais atenção e foi objeto
de artigos de página inteira, marcando presença constante na imprensa escrita e
falada.
Para se fazer uma
análise da imprensa brasileira e o Timor é necessário
lembrar que a Indonésia bloqueou as entradas do Timor
para dificultar que a imprensa noticiasse as atrocidades cometidas contra o
povo timorense. Tem que se levar em
conta as políticas editoriais dos jornais e os custos
para manter um enviado especial. Outro fator importante é o casamento da
publicidade com os artigos assinados, pois não é só de caviar (notícias) que os
jornais sobrevivem e, sim da publicidade. A Indonésia tem um dos maiores
investidores em publicidade – a Nike – patrocinadora da seleção brasileira de
futebol.
A imprensa brasileira
foi omissa até o referendo, embora tenha registrado algumas notas e artigos
esporádicos sobre o assunto desde 1980.
José Ramos Horta,
quando exercia o cargo de embaixador da República do Timor
Leste junto à ONU, pediu apoio da diplomacia brasileira para mobilizar os meios
diplomáticos internacionais para forçarem a interrupção da ajuda militar
norte-americana às forças da Indonésia, noticiou o jornal O Estado de São
Paulo, em 4/6/1980, sucursal do Rio de Janeiro. Ramos Horta
disse que o Brasil tem obrigação moral de nos apoiar em virtude de
vários pontos culturais em comum com o Timor e por
ter os mesmos colonizadores. Informou sobre o interesse dos EUA pelo petróleo
indonésio, razão pela qual decorre sua posição de aliado."
Em 7/2/82, O Estado de São Paulo, em artigo
intitulado "A Situação das ex-colônias portuguesas", de João Alves
das Neves, mencionou a respeito de cerca de 10 mil refugiados que se instalaram
em Portugal em decorrência da gravidade do problema no Timor.
Em 21/10/96, em
entrevista à Folha de São Paulo, por Beatriz Wagner, enviado especial da Folha em
Sidney, José Ramos Horta afirmou que nos próximos meses ou em 2 ou 3 anos,
vamos ver o impacto da atribuição do Nobel da Paz a Timor" (...) A atribuição do Nobel da Paz deve também
impulsionar o processo de diálogo para a paz.". As previsões de Ramos Horta
foram corretas, após o Prêmio Nobel, a imprensa deu mais destaque à causa
timorense.
A Rádio América nos
dias 14, 21 e 28 de dezembro fez um programa especial sobre o Timor Leste, 21 anos de resistência e luta de um povo. Uma
das mais completas coberturas sobre Timor Leste foi
uma edição especial com entrevistas, depoimentos, história do Timor, com textos, análise religiosa e interesses econômicos, com 32 páginas editada pela Revista da Fenafaz, Federação Nacional dos Servidores da
Fazenda, edição de nov/dez de 1996.
Destaque especial aos
jornalistas brasileiros enviados ao Timor: Pepe
Escobar, do O Estado de São Paulo; Renato Franzini,
da Folha de S. Paulo; e Rosely Forganes, a primeira
jornalista de rádio que foi ao Timor, enviada pela
Rádio Eldorado. As rádios de São Paulo que dão a melhor cobertura sobre o Timor são a Eldorado e a CBN. A revista
"Bundas" publicou um excelente artigo de Miguel Urbano,
intitulado "A culpa é dos gringos", na edição n.º 17, outubro de
1999.
Na
Internet pode se acessar cerca de 15 endereços eletrônicos sobre o Timor Leste e um dos mais interessantes sobre o tema
imprensa e o Timor é o ( http:/timortoons.8m.com
) que mostra caricaturas publicadas nos jornais antes e após o referendo.
Um
dos cartuns que podem ser vistos no endereço
eletrônico em questão é de Luís Costa, de Portugal, que mostra um timorense
pedindo ajuda aos integrantes da International Community – Polônia, Tibet, EUA. O primeiro de olhos
vendados, o segundo com a boca tapada e os EUA com os ouvidos tapados.
José
Ramos Horta pediu ajuda ao Brasil em 1980 que ficou de olhos vendados durante
19 anos, os EUA está com a boca fechada, com os ouvidos tapados e de olhos
vendados desde 1975, quando Kissinger esteve na
Indonésia e retornou aos EUA 4 horas antes da invasão. Que a imprensa não fique
mais omissa e que os governos de todas as nações destapem os olhos, desvendem
os olhos, acordem e gritem a favor da causa timorense. Agora é o momento da
reconstrução e que as nações do mundo se solidarizem e ajudem a reconstruir o Timor Leste e que ninguém mais fique cego, mudo e surdo
como os três macaquinhos.
Rosani Abou Adal é escritora,
jornalista, editora do jornal Linguagem Viva, membro da Academia Piracicabana de Letras e da Academia de Letras de Campos do
Jordão.