Sentou-se
na sua mesa de trabalho, o computador ao lado. Iria fazer uma poesia para ela.
Vira-a uma única vez. Foi o bastante. Ela ia passando. Como era feminina, como
era linda... Merecia uma poesia.
Nem
pensou no computador. Nele não conseguia escrever poesia. Apenas prosa. Poesia,
só à mão, com lápis ou esferográfica.
Afastou
papéis, pegou uma folha em branco, a caneta. Rabiscou, rapidamente, o primeiro
verso:
“Uma deusa ao sopro da brisa...”
Não
gostou. Muito romântico. Muito banal. Jogou o papel no cesto. Pegou outro.
Pensou. Veio o primeiro verso. Também não gostou. Foi para o cesto. E para o
cesto foram outras e outras folhas amarfanhadas.
O
entusiasmo se transformou em tédio. Levantou-se, foi à janela, pôs as mãos nos
quadris, virou o corpo para a direita, para a esquerda. Pequeno exercício, que
ficara muito tempo sentado.
Lá
em frente o bar e amigos. Céu bonito, sol bonito.
Desceu,
atravessou a rua:
-
Ei, turma!
Pediu
uma cerveja.
E
meteu-se na discussão, entusiasmado, esculhambando o governo.
Caio Porfírio Carneiro é escritor, crítico literário e secretário administrativo da União Brasileira de Escritores.