Poemas Visuais e Poesias, de Hugo Pontes
(Dix Editorial, 2ª edição, 2007), diz e não diz tudo deste livro. Nenhum título
que se dê a uma obra qualquer deste poeta dirá, nem aproximadamente, tudo dela,
como não se dirá tudo de ComunicARTE, arte visual de sua autoria, que
divulga regularmente. O visual é intenso em Hugo Pontes, desde 1963, quando não
se sabia bem o que era isto por aqui.
Mas há qualquer coisa, para além disto, neste poeta
multifacetado, lírico, objetivo, difuso, contido, poliédrico, e mais o que se
queira somar a todos estes adjetivos e
qualidades. É que se esconde, nos visuais, ou afloram deles, lampejos outros, que
lhes dão uma magia toda especial. Ele vai do riso à dor, da constatação à
denúncia, em sutilezas espantosas. E vai, com facilidade, quando se detém
apenas nos poemas não visuais, do voleio “haicaisante” ao quase épico cósmico,
para não dizer total, como se vê em Boi, poema em XII segmentos, onde
cada palavra, cada verso, cada estrofe, é um todo de levezas e profundidades
notáveis. Como citar alguns dos poemas? Apenas este, para um pálido exemplo, dá a dimensão perfeita do
artista do visual e da palavra:
Minas
aboio
de ouro
raízes
ruínas
restos
do
nada que restou.
O que dizer mais? Vai fundo na alma.
Hugo Pontes é um susto em cada criação. Cinema,
só visual, é toda a história do cinema, num ponto escuro, nos sapatos cambaios
e na ponta da bengala torta de Carlitos.
É sempre essencial, no visual ou na palavra. Sabe extrair da
palavra tudo o que ela não diz e nela está. Tal como afirma a poetisa Lenilde
de Freitas: “Palavra / que és / e que não és...” Pois é do “que não és”, que
não vem ao vivo, que se somam os achados poéticos deste artista de visão
múltipla, que joga o leitor na roldana da vida, mas não perde de vista a
objetividade dos temas abordados.
Livro que se lê, vê, relê, revê, e se chega àquela conclusão
inevitável: a obra de Hugo Pontes é feita de silêncios, que alcançam
todas as emoções humanas, desta vida de desesperos e precariedades. Silêncios
quase gritantes, em imagens e palavras mudas.
O que dizer mais de Poemas Visuais e Poesias? Nada.
É lê-lo, senti-lo e ... tirar a prova.
Caio Porfírio Carneiro é escritor, crítico
literário e secretário administrativo da União Brasileira de Escritores.