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A primeira lembrança que possuo de Catulo da Paixão Cearense é num remoto sarau em casa de meus avós. O poeta de Luar do Sertão cantava para uma pequena platéia onde se divisavam os bigodes de Alberto de Oliveira, o rosto abrasado de Martins fontes e o riso moreno de Mario de Andrade.
Esse
Catulo caboclo me transportava agora a seu homônimo, sofrido amante de Lésbia,
que foi menino feliz às margens do Lago di Guarda e
curtiu a solidão de um exílio amoroso em Tibur.
O Catullo romano que associamos a Musset, e compraramos a Sextus Propertius, o inspiradro das
“Elegias Romanas” de Goethe.
Tanta
digressão para chegar a Cautulle Mendés,
poeta francês que, segundo me confidenciou Guilherme de Almeida, poderia ser
filho de Odorico Mendes.
Se
isso realmente for verdade, o nome Catulle seria
escolha do latinista maranhense que em 1841, ano de nascimento do parnasiano
francês, morava na Europa.
Odorico,
das figuras mais curiosas de literatura brasileira, nasceu em São Luiz, no
Maranhão, em 24 de Janeiro de 1799. Descendia por seu pai capitão-mor Francisco
Raimundo de Cunha, de Teixeira de Melo, expulsor de
holandeses e, por sua mãe D. Maria Raimunda Correia de Faria, de Tomás Beckman, irmão do célebre “Bequimão”,
mártir da Revolução de 1684.
Odorico
estudou em Coimbra onde inicia a carreira literária. Último
árcade e primeiro romântico, viveu o romantismo mais na própria vida
inquieta do que na obra, toda ela voltada para o classicismo.
Jornalista e político, liga-se ao “Sete de Abril”, torna-se um dos responsáveis pela Regência
Provisória, recusando mais tarde, lugar na Regência Trina Permanente. Deputado
estadual no Maranhão e no Rio de Janeiro , elege-se também deputado federal por
sua terra e por Minas Gerais. Fundador da “Sociedade Defensora da Liberdade e
Independência do Brasil”, chegou a morar em São Paulo onde exerce o jornalismo
e conspira com os estudantes de Direito. Tradutor da Eneida das Geórgias e das Bucólicas de Virgilio, tradz
também a Ilíada, a Odisséia e algumas tragédias de Voltaire.
Pesquisou
o “Palmerim de Inglaterra” e escreve o belo “Hino ``A tarde”. Falece em 17 de Agosto de 1864 em Londres.
Certa
ocasião, no Rio de Janeiro, Maurice Druon, disse
descender de Odorico Mendes.
Resta
saber se o autor dos “Reis Malditos” provém também de Catulle
Mendès, o que deslindaria o enigma que herdei de
Guilherme de Almeida.
O
sangue generoso dos revolucionários
Manuel Beckman e de seu irmão Tomás Beckman, na França leva alguém a escrever “O Menino do Dedo
Verde” que aponta no Brasil para o lirismo de Stella Leonardos
a bela descendente do Bequimão, prima distante de Catulle Mendès, seu irmão em
Poesia.
PS: Mal acabara de escrever estas páginas, o
telefone toca e do Rio de Janeiro chega a voz de Yedda de Macedo Soares. Indago de Stella Leonardos e de sua festa de aniversário, e leio para ela a
crônica recém-terminada.
Do
outro lado da linha, minha amiga de juventude exclama:
- Paulo, “eu fui a portdora da medalha
com o nome de Druon que Stella Leonardos
me pediu para entregar ao escritor de “As Grandes
Famílias”. Estive com ele em Paris, na Académie Française, onde fui acadêmico nos falou de sua antepassada
que amara um poeta brasileiro, Odorico Mendes!”
- Esse telefonema totalmente mágico, era a confirmação do que
acabara de escrever.
Paulo Bomfim é membro da Aademia Paulista de Letras.