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Um Cidadão Chamado FERNANDO MURALHA

                                               

                                                        João Barcellos

 

O ator de teatro português Fernando Muralha faleceu no dia 6 de Agosto de 2005, em São Paulo. Lisboeta, irmão do escritor Sidónio Muralha, que também viveu e morreu no Brasil, Fernando Muralha foi um dos maiores animadores sócio-culturais da Comunidade Portuguesa, em São Paulo, e com a sua “Corroça de Ouro” chegou a percorrer parte do Brasil com os seus espetáculos de teatro. “És o português que se fez brasileiro por amar a liberdade”, disse-lhe, na Biblioteca da Casa de Portugal, quando assistíamos à celebração do aniversário do golpe d´Estado de ´25 de´Abril´, em 2005.

Ele riu, com aquela franqueza de sempre. Lembrei-me do dia em que o conheci, em 1991, numa palestra que ministrei na Sampa, quando ele me falou de si, dos seus projetos, e “...daquela época, em plena ditadura militar, nos Anos 60, quando dirigi o Teatro Universitário ´Luiz de Queiroz´ [TULQ] montando peças dos bons dramaturgos brasileiros. Um tempo de chumbo a que só os poetas sabem dar pontapés...”. A par das conferências do professor João Alves das Neves, ele participou de várias, enquanto declamador, que fiz em faculdades e clubes literários. A também falecida Tereza de Oliveira, fundadora do Grupo Granja, dizia dele o seguinte: “meu amigo e mestre João Barcellos, tu dizes que o poeta Sidónio Muralha é ´o poeta da vida´, então, eu digo que o ator Fernando Muralha é o cidadão por inteiro, o ser-cultura que desenvolve a sociedade rumo à felicidade e ao amor”.

Os portugueses residentes no Brasil perdem uma referência do humanismo crítico, e mais os da Sampa, porque era na ´ilha do trabalho´ que ele mais gostava de estar e de mostrar que “para todos nós existe um palco, e nós ensaiamos nele a vida em todos os instantes”, como gostava de dizer.

João Barcellos é escritor e jornalista.