Vencidos
da História
Para Ronaldo Cagiano
Novembro, domingo:
banho-me neste sol,
mas não me pertenço
(exilada subjetividade)
desfaço-me,
fiandeiras do tempo
espreitando na soleira
da
porta.
Despeço-me enquanto vivo:
Sem medo: o pó é certeza
sem dissenso.
(Só lamentarei pelo
memorialismo inconcluso.)
Fomos profetas?
Não no sentido de “prever o futuro”,
na acepção bíblica
original.
Aquele que anuncia uma
antecipação condicional,
o que adverte o povo das
catástrofes.
(Porque não mudamos o curso
da vida.)
E penso nos vencidos da
História ensinada:
Tiradentes, Frei Caneca,
Frei Tito, tantos outros.
vou em busca do mar,
minha orla interior,
sinal de luz.
Ah, novembro, domingo.
O sol não é absoluto,
mas abraço-me à arvore
(que continuará depois de
mim,
testemunha de minhas andanças)
inundada de luz.
Emanuel Medeiros Vieira é escritor, crítico literário
e poeta.