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Adeus, Grécia

 

Para Marta Vieira Coelho Pereira

 

Emanuel Medeiros Vieira

 

Não bastaram a fibra e o amor,

cai, Grécia,

universo solar,

adequação entre ser e destino,

envelhecemos,

com a morte na soleira da porta,

perdida alegria,

cinzas do purgatório

(que não existia)

apenas fragmentos de sonhos,

narrativas epigonais,

adeus, Grécia,

adeus,

universo de despedidas.

Ulisses: somos apenas seres virtuais

e Homero envolto em brumas.

Homens sem fibra com engenhocas eletrônicas,

caindo como folhas ao vento,

pensando que éramos onipotentes,

continuamos caindo- celebridades vãs,

deuses de barro.

Infinitamente mortais,

teclamos, não vivemos.

Resta-nos a imagem,

nunca mais a sensação.

O Espirito sopra onde quer?

Adeus, Grécia,

adeus, pátria dos homens,

adeus, pássaro da juventude,

afundados e pequenos,

ficou o lamento- não a História,

apenas sua lembrança doída

 

De que barro fomos feito?

Não, não só de vileza,

mas de busca,

mesmo acampados em sucursais do inferno,

caminhando em sombras:

o sonho da eternidade pela arte.

E para todos nós, fúteis, deslumbrados ou sábios

(imbecilizados por imagens que se repetem –

como tubarões, não dormem nunca)

haverá sim – como haverá!,

o momento da Revelação,

e, como sempre, será tarde,

muito tarde.

 

Adeus, Grécia,

adeus.

Desfeitos, como pó,

varridas cinzas,

irrelevantes,

mas, quem sabe, nobres nessa finitude.

Diante do Cosmos, o que somos?

Sonâmbulos, clones de nossos sonhos,

sempre mortais

(e as bactérias duram eternamente).

 

E somos abençoados: mais um dia concedido,

chuvoso, burocrático,

mas sempre um novo dia.

 

Não, não naveguei nos melhores mares.

Nunca navegarei?

(Não importa)

Fui gestado neste barro,

cumpri meu destino.

Estóico, caminho.

O que me espera?

Aspirando (sempre) o que nunca alcançarei.

(Mas humano, infinitamente humano.)

(Brasília, abril de 2006)

Emauel Medeiros Vieira é escritor e crítico literário.