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Para Marta Vieira Coelho Pereira
Não bastaram a fibra e o amor,
cai, Grécia,
universo
solar,
adequação entre ser e destino,
envelhecemos,
com a morte na soleira da porta,
perdida alegria,
cinzas do purgatório
(que não existia)
apenas fragmentos de sonhos,
narrativas epigonais,
adeus, Grécia,
adeus,
universo de despedidas.
Ulisses: somos apenas seres virtuais
e Homero envolto em brumas.
Homens sem fibra com engenhocas eletrônicas,
caindo como folhas ao vento,
pensando que éramos onipotentes,
continuamos caindo- celebridades vãs,
deuses de barro.
Infinitamente mortais,
teclamos, não vivemos.
Resta-nos a imagem,
nunca mais a sensação.
O Espirito sopra onde
quer?
Adeus, Grécia,
adeus, pátria dos homens,
adeus, pássaro da juventude,
afundados e pequenos,
ficou o lamento- não a História,
apenas sua lembrança doída
De que barro fomos
feito?
Não, não só de vileza,
mas de busca,
mesmo acampados em sucursais do inferno,
caminhando em sombras:
o sonho da eternidade pela arte.
E para todos nós, fúteis, deslumbrados ou sábios
(imbecilizados por
imagens que se repetem –
como tubarões, não
dormem nunca)
haverá sim – como haverá!,
o momento da Revelação,
e, como sempre, será tarde,
muito tarde.
Adeus, Grécia,
adeus.
Desfeitos, como pó,
varridas cinzas,
irrelevantes,
mas, quem sabe, nobres nessa finitude.
Diante do Cosmos, o que somos?
Sonâmbulos, clones de nossos sonhos,
sempre mortais
(e as bactérias duram eternamente).
E somos abençoados: mais um dia concedido,
chuvoso, burocrático,
mas sempre um novo dia.
Não, não naveguei nos melhores mares.
Nunca navegarei?
(Não importa)
Fui gestado neste
barro,
cumpri meu destino.
Estóico, caminho.
O que me espera?
Aspirando (sempre) o que nunca alcançarei.
(Mas humano, infinitamente humano.)
(Brasília, abril de 2006)
Emauel Medeiros Vieira é escritor e crítico literário.