História do
Brasil e de Araçariguama
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Um Pouco da Poesia Interiorana
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Ultimamente,
depois de eleito para presidir a ANE, por dever de ofício tenho pisado com
inusitada freqüência um território indesejado pela maioria dos viventes. Ali, em
volta a silenciosa multidão de símbolos, funéreos símbolos, todos se
reconhecem?efêmeros, frágeis,
vulneráveis, em suma, irreversivelmente “morrentes?(permitam-me o neologismo).
A legião de órfãos e viúvas que por ali transita, com sua sombria presença, com
seus suspiros e lágrimas, enfatiza as negras cores do fim, caminho a que todos
nós estamos destinados. Nos momentos quando nos fazemos presentes naquele
cenário, levando ou sendo levados, forçosamente os diálogos ou solilóquios
versam sobre o p?de onde procedemos e o p?em que nos haveremos de converter.
?tudo muito triste, sim, a melancolia reinante se justifica.
Número
crescente de parentes, de amigos, com o fluir das horas e dos anos, vai-se
aglomerando no referido espaço, que em um poema batizei de “a zona mais roxa e
doída da cidade? Verdadeiramente, dói!
?
Como não h?vida humana sem alma, sobram-nos os chamados restos mortais. Não
poderia ser, pelo menos, restos, mas vitais? A despedida não poderia
consubstanciar-se com espírito, alma e corpo, coberta de regozijo, de
reminiscências, at?de canções e de festivos hinos? Mas, como se sabe, não ?o
que ocorre. Predomina ?o peso da ausência, da ruptura, da dor de quem v?
partir, sem a execução, do outro lado, do dueto nos lábios de quem partiu... o
que torna mais difíceis, mais pesadas, mais desconfortáveis as horas do adeus.
Os
companheiros escritores, os amigos em geral, os parentes que aqui me restam (os
filhos bateram asas, e foram chocar, em longínquas terras, meus belos netos e
netas) cada dia chamam-me mais fortemente. Desfrutando embora de boa saúde,
graças a Deus, como integrantes de amplos corais, não mais com meros solos, ou
quartetos, eles fazem ecoar o convite para a companhia, convite que me ?at?
simpático.
As
assíduas visitas ?por dever de ofício, j?o disse ??derradeira morada de
tanta gente querida acabaram por compelir-me ?aquisição do meu próprio
cantinho, em local bem acessível, quase junto da pista e da grande cruz que, de
perto e de longe, indica o lugar. Não gosto de incomodar, os íntimos sabem como
sou, dou trabalho no mínimo possível. (Diga-se, de passagem, que quem me ouve
considera aquilo um ato deveras inconveniente, com cheiro de agouro ou coisa
parecida, mas o que hei de fazer, Senhor ?).
Dia
desses, mandei um e-mail ao “mais chegado dos amigos? com um poema pesado de
interrogações, mas que, otimistamente, finalizo com a palavra Ressurreição. O
título traz as letras e números de “meu futuro endereço? S. A, Q.
701-2, L. 3953, Camp/o/a da Esperança.
(O
poema, que o mestre Braga Horta considerou bom, qualquer dia desses o
publicarei. Ou alguém o far?por mim...) Brasília, 10.5.2007
Joanyr de Oliveira ?escritor, crítico literário e presidente da ANE.