|
|
|
Lavradio Samuel
Penido Lavradio, de
Reynaldo Valinho Alvarez, Edição Myrrha, Rio, 2004, é
livro não somente para ler, senão também para reler, o que de resto se
aplica a todos os livros do autor, um dos principais poetas brasileiros da
atualidade, reconhecido pela crítica especializada do país e do exterior. Na
realidade, Lavradio é o título geral de um
conjunto de quatro livros assim denominados: Lavradio, Noite Sobre Dia,
Janeiros Como Rios e O Desembarque. Os
quatro livros reunidos neste volume apresentam, como não poderia deixar de
ser, assuntos dominantes e determinadas características. Porém, ao mesmo
tempo, desenvolvem temas recorrentes na obra de Alvarez, a saber: a cidade do
Rio de Janeiro, terra natal do autor; a exploração da memória; a miséria, a
violência, a guerra; a angústia, a solidão do homem moderno; a palavra, a arte
poética. Não faz muito tempo, sobre a coletânea de sua autoria, O Tempo e a Pedra, tecemos
considerações que merecem ser reiteradas: Afora os elementos idiossincráticos
- que lhe abrilhantam a personalidade literária, cumpre reconhecer que ele
soube, como poucos, assimilar as lições legadas pelos expoentes de vários
movimentos poéticos nacionais. E como sucede com os poetas de alta estirpe,
sua obra mantém, igualmente, desde as primeiras manifestações, um fecundo
diálogo com as maiores vozes da poesia universal. Lembre-se,
a propósito, nomes da altura de Eliot, Baudelaire, Camões. É
impressionante a fidelidade de Alvarez à sua missão de poeta, à sua
ferramenta de trabalho, ou seja, a Palavra. Na sua ótica, o poema terá de ser
forjado estrofe a estrofe, verso a verso, palavra a palavra, com o máximo
rigor imagístico e conceitual. Eis porque o produto
final surgirá sempre como algo irretocável. Atente-se para este Epílogo:
“Antes que a sombra chegue / e baixe sobre ti, / ouve na tarde o alarde / da
voz do bem-te-vi. // Antes que a noite venha / pesar sobre os teus ombros, /
olha pela janela aberta sobre escombros. // Antes que a treva tombe / e a tua
luz se extinga, / escapa da hecatombe / de um mundo que se vinga. // Antes
que entres no cofre / da indesejável urna, / esquece o que em ti sofre / e aspira a aura
diurna. // Antes do fim da linha, / colhe a uva na vinha. / Ceifa, depois, o
trigo, / para assar o teu pão / e servi-lo ao amigo / com quem lavraste o
chão. // E chama aquela a quem / levaste pela mão, / para deixar-lhe o bem /
da última canção.” Samuel Penido, poeta e escritor, é autor de Cantos da
Metrópole, A Noite Brilha, entre outros livros, e secretário geral da
União Brasileira de Escritores. |
|