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Paulo Dantas e João Chiarini

Piracicaba, meu Amor

 

Paulo Dantas

 

Piracicaba de tantos poetas, violeiros, professores, escritores, saudade do mestre Tales de Andrade, do crítico Sud Menucci, do romancista que ainda não escreveu seu grande romance. Pausa. Por certo esse romance já foi escrito por vários romancistas esquecidos.

Não cito nomes, nomeio os poucos. Todos os valores, e são tantos, que quando se lembra um, se emite outros, injustiças involuntárias se cometem à-toa, já que a vaidade humana de cada um, tomada em particular, auto se julga, com razão injustiçada, esquecida sem, jamais preterida.

Outro dia prefaciei numa boa alvideira um livro de poesias de um valente e querido amigo, meu camarada João Chiarini, coração argamassado em recados dados na praça com ou sem nenhuma cachaça. Tatuzinho, Jeca Tatu do inesquecível Lobato. Ao mestre, com carinho.

Toda a poesia pode ser a goma de muitos lugares comuns, comunicativas mensagens que não se complicam, nem buscam atitudes nem enigmas, vocábulos difíceis, exibicionismos, pedantismos.

Repito: prefiro ser um escritor valente, um escritor sempre ao ar livre. Não persigo a falsa e manipulada glória. Gostei, sim, de uma Glorinha, filha da dona da pensão do Catete, no Rio, que não foi minha. Sua  mãe,  por coincidência, se  chamava Dona Glória do Espírito Santo. Obrigado,  gente humilde que tanto  me  considerou e que teve paciência  e  perdão para minhas agressividades afetivas.

Poeirama sempre amando e querendo bem a todo o mundo sem nenhuma exclusividade possessiva, trágica, abafativas dos meus galhos místicos.

Aos miúdos ciúmes. Os queixumes. As reclamações. As mútuas agressões. Só se agride aquilo que se ama. A doação enganosa que busca vitimar e que se julga vitimada. Quero sair do enigma amoroso que sem querer armei para mim mesmo, mais vítima do que vitimado.

Escutava o rio de Piracicaba numa enfada boa, do cardume sem queixume e eis que na boca da mata surge uma cigana ou uma raposa, a qual quer me morder ou pegar pelo pé.

Estou ao lado da Rosani, com ela, vamos fazer uma pecinha brejeira. Texto: Poeirama. Acompanhamento: Rosani. Ela surge das matas, bonita, vestida de branco. Fala, Rosani: meu jaguncinho querido.

Rosani, bela, vestida de branco, diretora do jornal Linguagem Viva - único periódico alternativo do Brasil.

Você que já publicou vários livros é uma poetisa lírica e ecológica. Você é defensora da natureza e amante das árvores e do chão brasileiro. Pisa na terra firme e bota seus ombros nas estrelas. É uma poetisa sideral, madrinha lua lhe mandou lembranças. Capricorniana nascida em 17 de janeiro de 1960, já passou dos 30 anos e não é mais balzaquiana.

Paulista várias vezes premiada só lhe falta o prêmio da Academia Brasileira de Letras - Prêmio Olavo Bilac, que um dia você ganhará. Calma no Brasil. Poetisa muito merecida. Bela moça, moça bela.

Trabalhou comigo no Museu da Literatura em diversos eventos culturais. Faço questão de prefaciar seu livro inédito Silêncio do Narciso. O resto é silêncio. Chega. Fecha as cortinas. Silêncio do Narciso é sua obra prima. Você, com ela, atingiu o infinito. Quando você irá publicar este livro, Rosani? Você é uma poetisa e jornalista valente que sozinha está conduzindo o único jornal alternativo do País. Sei das dificuldades que passa.

-  Por que você ama tanto Piracicaba?

- Gosto muito de Piracicaba porque a poesia está presente e viva nas águas do rio, nos corações dos caipiracicabanos - como dizia o nosso saudoso Chiarini.

Você é dona do meu pronto socorro literário. Não sou irônico. Lá aonde ela não chegou é uma forma de liberdade. Sei que você recebe colaborações de muita gente boa. Você é uma espécie de antena captando toda a inteligência brasileira que no periódico que dirige despeja forte. 

Cadê Adriano. Eu pergunto a você. Era boa praça, camarada legal, quando tinha crise de bondade dava tudo. Que falta ele faz. Cadê o livro que você me franqueou os originais? Li e Gostei. Advogado, sem causa civil e nem criminal. A sua causa e sua luta eram culturais. Escreveu um bilhete literário que a imprensa comprada aliada à mídia não tomou conhecimento. Azar dela.

Agora existem espertos editores e eles patrocinam as feiras da vaidade. Apesar dos pesares eles fazem benefício. Esta questão de livros pagos é velha como o mundo. Todo livro que sai é uma libertação. Monteiro Lobato pagou a primeira edição dos Urupês. Ele é o propulsor do conto moderno no Brasil. Alguns dos seus livros são contos leves, outros pesados. Lobato é o pai do livro brasileiro.

Seu slogan é muito conhecido: Um País se faz com homens e livros. Esqueceu de falar de estradas condutoras de trem de ferro e de caminhões e automóveis que rodam quilômetros.

Pausa. Chega. Aqui eu esbarro. Rosani, acelere e publique o seu Silêncio do Narciso. Quero vê-lo rodando bibliotecas.

O resto é silêncio. Narciso contempla o seu rosto nas águas e diz:  espelho, espelho meu, Rosani quem me deu tamanho poético.

Paulo Dantas é escritor, crítico literário e vice-presidente da Academia de Letras de Campos do Jordão.