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Ao Embalo da Manga Madura
Caio Porfírio Carneiro Livro como este de
Rita de Cássia (Manga Madura, Fortaleza, 2004) é para ser lido ao embalo
de uma rede ou numa cadeira- de- balanço. Porque, para além das poesias, ou
emanado delas, espiraliza-se um frescor
profundamente humano e dadivoso, que há de ser o lado de benquerença que
todos nós, dentro das nossas precariedades, possuímos. Suas poesias são
ungidas com uma aura de paz, até quando o protesto, a tristeza ou a dor exsurgem dos versos. Tal como a autora diz no início de Minha
Alma: “Todas as tardes/ após os afazeres/ penso em uma solução/ salvadora
de vida.” Cremos que aqui está
a essencialidade maior das suas criações. Os anjos, quase contra-faces de sua
visão filosófica do mundo e do cosmo, são bem emblemáticos do que afirmamos. Os sentimentos de
Rita de Cássia alcançam uma dimensão de grande espiritualidade quando eles se
concretizam em poesia. Ao correr de quaisquer de suas obras este é o fio
condutor da sua Arte, que não se monotoniza, porque
a variação temática é bastante diversificada. Manga Madura é para
ser lido, embalar-se com ele, mas, particularmente, para se por a mão na consciência,
porque, na subjacência dos poemas, há uma visão de Vida, sua e de tudo que a
cerca, muito grande. E há ainda uma solidão, que se não anula em si mesma,
porque a chama infinita de Vida está sempre presente. A poetisa vê e sente
a vida, é andeja nas suas observações mundo a fora, sensibiliza-se com tudo,
até com “ uma pedra no meio do caminho.” E,
inversamente, sempre se acautela, não se alonga, é essencial. O poema Parque
do Cocó, tão belo, de paisagem translúcida,
completa-se com a alma e visão corpórea da autora dentro dele. Eis outra
característica da autora: ela vê sempre de muito perto, tudo é palpável e
mágico, até quando volta ao passado. Manga Madura (de excelente feição gráfica)
é para ser lido ao embalo, se não da rede, se não da cadeira-de-balanço, ao
embalo das próprias emoções de quem o ler, porque é um embalo de Vida, na sua
dimensão universalizante, que cala fundo na alma do
leitor de qualquer quadrante. Para Manga Madura um
adjetivo basta: lindo. Caio Porfírio Carneiro é secretário
administrativo da União Brasileira de Escritores. |
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