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Martha MedeirosO DIV?span style='mso-spacerun:yes'>
DE MARTHA MEDEIROS Ely Vieitez Lisboa
Conheço
a cronista Martha Medeiros, do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e j?
admirava seus enfoques, com boutades notáveis e o estilo
personalíssimo. Quando soube do seu romance, em um dos grandes jornais de São
Paulo, noticiava-se que os leitores questionavam se a autora era psicóloga.
Em plena Era da Semiótica, procura-se ainda saber como ?a autora, para
conhecer-lhe melhor a obra. O caminho deve ser o inverso. Usando o procedimento
literário de narrar sessões de terapia, uma conversa com seu psiquiatra, a
autora passa a impressão de que o livro poderia ser literatura testemunhal.
Os incautos que se acautelem; os limites entre a
ficção e realidade são muito tênues e jamais se poder?deline?los com
precisão. E nem h?necessidade disso, visto que o autor não ?sua obra,
todavia ela ?a sua cosmovisão. De certa maneira,
ele sempre se reescreve, a ele e sua visão de mundo. ?interessante notar,
ainda, na estrutura do romance “Divã”, que os capítulos, curtos e
condensados, são sessões de terapia, ?busca do conhecimento de Mercedes e
seu eu profundo. Cada capítulo tem uma temática diferente,
alicerçada na mundividência da personagem central.
Assim, os capítulos podem ser lidos estanques e/ou seqüentemente, sem perda de interesse ou profundidade. A
estrutura lembra o “romance rosácea? como j?foi
chamado pela crítica especializada, “Vidas Secas? de Graciliano Ramos: os
capítulos são verdadeiros contos. H?hoje, mais do que
nunca, por razões várias, uma problemática intrínseca ?literatura. O leitor moderno, assediado pelas mais diversas propostas,
apelos vários, perdeu a paciência para ler obras literárias complexas. São
tempos do fast-food: os livros devem ser leves,
agradáveis, superficiais, atraentes, de linguagem fácil. Esta ?a receita do
best-seller. O grande impasse ?escrever um romance
profundo, sério, fascinante. A linguagem, tão fácil, que qualquer
leitor a entenda e tão pertinente, que traga mensagens, revelações sábias.
Martha Medeiros consegue o inusitado, em “O Divã”, Editora Objetiva Ltda, Rio
de Janeiro, 2002. A coragem de desnudar-se
diante do público, as confissões ousadas (adequadas, visto que “são?um
monólogo com o terapeuta Lopes,_ mero contraponto), metáforas notáveis, que
concretizam o abstrato: o consultório ?a “alfândega que vai me dar o visto
para passar para o lado mais oculto de mim.
Não sei explicar direito. Acho que a terapia vai servir para tirar a
clandestinidade da coisa, preciso de um aval para fazer esta alteração de
rota?(pg.13). O foco narrativo na primeira pessoa,
o tom pretensamente confessional, a opção por mostrar seu lado incomum,
crespo, o que, em geral, se esconde, tudo reforça uma intimidade sem jamais
resvalar para o vulgar. Como diz a epígrafe da capa: “São muitas mulheres
numa s? e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia de grupo? Toda
a narrativa de M.M. traz a transparência de uma verdade confessional: ficção
da melhor qualidade. Mercedes ?e não ?Martha, o tempo todo. Impossível
separ?las, saber qual ?qual, quem ?a máscara de quem. Todas as personagens
secundárias são importantes para se conhecer Mercedes, que se atira ?procura
do auto-conhecimento abissal, sem volta, “sempre
asfaltando uma nova estrada para mim, totalmente desfalcada de sinalização.
Lopes, não encontro mais placa de PARE nos cruzamentos? Os mergulhos profundos nas
questões metafísicas mais complexas, a procura do eu essencial, de respostas
que não existem (“Agora entendo que nunca estarei pronta? pg.154), a coragem de se olhar sem máscaras, o desprezo
pelas convenções sociais, essa ?a rota de Mercedes/Marta.
Como em literatura nada ?fortuito, mas deliberado, uma observação sobre a
onomástica: M(ercedes), personagem, e M(artha), autora, têm as mesmas iniciais do nome e
sobrenome da autora do romance. Outros procedimentos literários que fazem do
romance “Divã” uma obra notável: ficção de alta qualidade, linguagem solta, às vezes coloquial, uma narrativa sedutora, com enfoques
pessoais, originais, os capítulos curtos, a variedade de abordagens estilo
vivaz, ligeiro, rápido, envolvente. Martha Medeiros, no
romance “Divã”, ?um Midas literário. Transformou seu romance em ouro puro,
do mais alto quilate. Ely Vieitez Lisboa pertence ?
Academia Ribeirãopretana de Letras e ?União
Brasileira de Escritores. |
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