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O Estudo Técnico da Literatura: a Narrativa

Luiz Toledo Machado

O estudo técnico da literatura, transformando a crítica literária em algo afim aos métodos científicos, encontra fundamento não apenas na adoção de procedimentos técnicos, como ainda nos dados da sensibilidade e em suas alterações qualitativas no curso do tempo. A relevância do estudo metódico da literatura ressalta da sua relação metodológica com as demais ciências, particularmente com o pensamento filosofante, formando a síntese perfeita de uma visão científico-humanista. Com efeito, a moderna crítica literária compreende tanto aquilo que é comum às ciências exatas como o que constitui objeto de reflexão filosófica.

Quanto à arte narrativa, o romance, a novela e demais formas constituem gêneros que, embora remontando ao mito, fábula e epopéia, constituem por excelência da sociedade afluente, surgida da revolução industrial na Europa. Tem, pois, razão o Ver. Samuel Osgood (Memorial to Cooper) ao escrever: Não é verdade, senhor, que o romance é a prosa épica da moderna sociedade e que agora procuramos em suas páginas o retrato mais fiel dos homens, dos costumes, dos conhecimentos”.

Com efeito, a revolução burguesa, produzindo a industrialização, os grandes coágulos urbanos, as concentrações demográficas, criando as bases de uma sociedade de consumo, fez surgir o que hoje chamamos de “público leitor”, isto é, o consumidor da manufatura ficcional. E o romance como a novela, incorporando a psicologia, a sociologia, a economia, a política e ética, num complexo de conhecimentos que logrou atender no plano estético, pela sua natureza “aberta” e dinâmica, as exigências intelectuais e emocionais do homem desse tipo de sociedade. Foi assim que no século XIX surgiram três grandes linhas de romance: o romance de ação, o de personagem e o de espaço, atendendo à evolução do gosto de grupos e classes sociais.

Obviamente a ficção é tão antiga como o próprio homem e remonta ao fundo dos tempos, às sociedades cosmogônicas, às primeiras narrativas de origem sagrada sem historicidade. E arte narrativa, em seu desenvolvimento, representa o mundo e os seus personagens dentro de um processo de evolução histórica.

O romance de espaço, comumente chamado de romance de época ou de sociedade, é o que melhor caracteriza o espírito do século XLX. Surge integralmente com o Realismo e Naturalismo. Nesse tipo de ficção romanesca destacam-se Stendhal, Flaubert, Zona, Balzac, Tolstoi e, no Brasil, Aluísio de Azevedo, Inglês de Souza, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha e, sobretudo, Raul Pompéia.e Machado de Assis, este último eminentemente um romancista de espaço.

Luiz Toledo Machado é professor universitário, doutor em Letras pela USP e presidente do Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo.