E,
então, ao ouvir o nome de uma das escolhas do presidente Lula da Silva, para a
composição de seu segundo ministério, fui ?estante em busca de um pequeno
livro de contos, intitulado Isto o jornal não conta, publicado em 1970
pela Vertente Editora, uma iniciativa do jornalista e escritor Wladyr Nader.
Ali estava ele, o nome do homem escolhido a dedo para um dos mais importantes
cargos e encargos da República.
O
livro publicou pequenas histórias de 17 jornalistas, alguns então j?ancorados
no mundo das letras e outros, nem tanto. De qualquer modo, eles firmavam os
passos para seguir, cada um, o seu caminho. Era um grupo integrado ?vida de
jornal, no batente severo das redações, que estimulado pelo Nader, resolveu
participar da iniciativa e mostrar as histórias que escreviam. E o livro saiu
com os 17 contos, cada um espelhando as tendências literárias que, com o tempo,
se consolidariam ou não.
Não
deixa de ser fascinante a trajetória que vários deles tomariam. Wladyr Dupont,
que em 1965 tornou-se correspondente da revista Visão, no México, e
trabalhou nos anos 70 na Folha de S. Paulo, exerceria várias outras
atividades jornalísticas. Hoje, colabora com o mercado editorial traduzindo,
para o português, obras significativas da literatura do mundo. Dentre os
autores que tem traduzido estão Mário Vargas Llosa e William Faulkner.
Fernando
Portela, que pertenceu ?turma responsável pela criação do Jornal da Tarde, jamais
deixaria a literatura. Tanto ? que ele acaba de fazer o lançamento, em São
Paulo, do livro de contos O homem dentro de um cão, reunindo 26
histórias de aventura e humor. Culto, empreendedor no campo literário, tem, nas
letras, um traço distintivo.
E
Percival de Souza, que se dedicou de corpo e alma ao jornalismo investigativo,
revelou-se de uma coragem profissional colocada ?prova at?o limite dos riscos
que suas iniciativas poderiam levar. Jornalista cultor de uma prosa elaborada,
escreveu livros que ficarão na história dos graves momentos do País. Dentre
eles, a “Autópsia do Medo? biografia do delegado Sérgio Paranhos Fleury e o
trabalho sobre as causas e a tragédia do jornalista Tim Lopes.
Reexamino
o livro de fio a pavio e l?encontro também o nome de Modesto Carone. Além de
autor do romance Resumo de Ana, e, antes dessa publicação, colaborador
do antigo suplemento literário de O Estado de S. Paulo, ele conseguiu
dar ?sua carreira uma atribuição notável: tornou-se o grande tradutor das
obras de Kafka.
Mas
não h?como deixar de lembrar o nome do responsável maior pela publicação
daquele conjunto de histórias: Wladyr Nader, autor dos romances Camisa de
força e Jogo Bruto e de vários livros de contos, dentre os quais Espinha
dorsal, Cafarnaum e Vamos e convenhamos.
Destacaria
os demais: Eduardo Castor, Alberto Beutten-Müller, Theo Dutra, repórter que
faleceu tão jovem e que surgia com uma linguagem solta e despojada; Jos?Carlos
Abbate, Gilberto Mansur, Lenita Miranda de Figueiredo, Ubirassu Carneiro da
Cunha, Lourenço Diaféria, que se notabilizaria pelas crônicas e histórias
intimamente relacionadas com a vivência e o ambiente urbano da Paulicéia; Yvete
Ko, Hamilton Trevisan, contista?e
tradutor de Joyce (Dublinenses) e este autor. Participei dessa seleção
de histórias com o conto João, ?/span>personagem urbano que acabara de ingressar nos afazeres de jornal.
Mas,
e o nome escolhido por Lula para o seu ministério? L?estava ele, entre os
demais escritores: Miguel Jorge. Na época, depois de haver trabalhado no Jornal
do Brasil, ele ingressaria no Jornal da Tarde. Depois, tornar-se-ia
diretor de redação de O Estado de S. Paulo, antes de fazer-se executivo.
Em Isto o jornal não conta ele comparece com a história Voc?vai
morrer, velho.
Hoje,
Miguel Jorge, o antigo contista, ?ministro do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Cada um com o seu caminho.
Nildo
Carlos Oliveira ?escritor, jornalista, crítico literário e membro da União
Brasileira de Escritores.