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Outro Sol: muitos sóis.

 

Daniel Mazza

 

Outro Sol (Nankin/Funalfa editorial, Juiz de Fora, 2004) reunião da obra poética de Júlio Polidoro, 1979-2003, tem dois momentos distintos: um primeiro que vai do livro de estréia (Treze poemas essenciais,1979) até “Outro Sol (2002/2003)”. E um segundo momento, daí em diante. Nesse contexto, não nos parecem totalmente corretas algumas assertivas do prefácio: “Em outro sol não há modo de demarcar núcleos temáticos, de rubricar traços de estilo, de assinalar uma progressão poética...”. Sobretudo no que se refere à última consideração, entendemos que há uma substancial progressão não só no que diz respeito à qualidade dos textos, mas também com relação à concepção de linguagem poética admitida pelo autor, a partir dos textos primevos até os mais recentes. É fácil perceber esse fato quando dois poemas temporalmente afastados são cotejados: o primeiro do livro “Mar desconhecido”: “frustrar-se/pelo atrativo/imagino rupturas/o livro da presença/imaginar se faz/antes que pense/coloca o seu favor/o que preciso/contra”; e um outro poema, agora do livro “Outro Sol (2002/2003)”: “eis meus amigos/estão aqui/e ignoram quem venceu a guerra/daqui a anos/voltarão o rosto/e as bengalas/eis meus amigos/os seres que mais amei em vida/na lembrança incrustados/sem memórias/amigos/nada”.

Assim, num primeiro momento trata-se de uma linguagem praticamente incognoscível, que não guarda relação alguma com uma rede de metáforas baseadas no símbolo hermético, mas, antes, em construções metafóricas incongruentes, inapropriadas. É essa a tônica, se não de todos, pelo menos da maioria dos poemas dessa fase inicial, um exercício com palavras, em resumo: “a conotação/aflora da rua/hiberna/o que não definimos...”; ou, no mesmo tom: “vogar o silêncio/dizeres falas/expressão/perdida sempre/talagarça onde teço/faces anônimas.” Ainda assim, respira-se poesia nos poemas dedicados a Walter e Waldir Polidoro.

Nesse caminho para a segunda fase, os sonetos de “Os ciclos contingentes (1997)” anunciam discretamente a transmutação que será plenamente visualizada nos livros finais: na verdade, a modificação no “fazer poético”, nesse instante, é mais formal do que estrutural. Percebe-se o apreço por um ritmo livre, conquanto o uso da métrica tradicional. Dessa forma, em um soneto dedicado a Leonardo Fróes, temos alexandrinos acentuados ora na sexta e décima segunda sílaba, (6,12); ora na quinta e décima segunda sílaba, (5,12); e ainda na sétima e décima segunda sílaba, (7,12). Em um outro soneto, “eu sei, mas por saber sei que sou parco”, encontramos decassílabos heróicos de permeio a alguns com acentuação pouco usual, mas descrita pelos tratadistas, na quinta sílaba do verso. Não se trata, evidentemente, de recurso novo em poesia, mas, aqui renovado, apresenta-se particularmente válido, por unir o isossilabismo da poesia clássica com o ritmo “incerto” do verso livre moderno.

No entanto, é a partir de “Outro Sol (2002/2003)” que a  poesia de Júlio Polidoro medra verdadeiramente. É nesse ponto que a sua lírica passa a prezar pela temperança no emprego das metáforas, que agora se sobressaem pela qualidade, e não pela quantidade, o que proporciona