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Genésio Pereira Filho Advogado Tel.: (11) 3107-7589
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Minhas Praias Rodolfo Konder As praias estiveram comigo em todas as fases da minha vida,
acentuando a alegria ou aprofundando a tristeza, presentes de dia ou de noite,
na vigília ou no sono. Elas tanto inspiraram sonhos românticos como pesadelos
recorrentes. Nas madrugadas geladas de Nuns’ Island, por exemplo, um pesadelo
me perseguiu durante meses. Eu caminhava assustado por uma interminável praia
deserta. A areia cedia sob meus pés, pegajosa e fria. O mar ficava
subitamente encapelado, as ondas cresciam e batiam nas minhas pernas. Tentava
me afastar, não conseguia. Pedia socorro, ninguém me ouvia. Já não podia
permanecer de pé, por isso engatinhava e afundava na areia. Na
praia do sonho estavam certamente as lembranças fragmentadas das muitas
outras praias que percorri, até chegar à solidão nevada de Montreal. Havia
ali, por exemplo, a memória da imensa praia varrida pelo vento, por onde
caminhei, desolado, em Punta Del Este. Era uma praia povoada de escombros
misteriosos, restos de barcos naufragados pequenos caranguejos, conchas
coloridas e gaivotas que pairavam imóveis no ar, sobre peixes e marolas. Era
também uma praia povoada de desencontros e desilusões. Talvez
a praia do pesadelo contivesse referências a Punta Negra, nos confins de
Lima, com despenhadeiros escuros, pedras e moluscos. Agredida pela águas
raivosas do Pacífico, a vida ali se escondia, amedrontada. As pessoas se
retraíam – não se expunham, com incontida sensualidade, como na Praia do
Forte, em Salvador, ou na Praia Brava, em Florianópolis. No
sonho, havia seguramente a lembrança de uma pequena praia coberta de seixos –
“pebbles” em inglês – que visitei na Nova Escócia, batida por ondas
descomunais e pelo implacável vento do outono canadense. Havia ainda a
memória daquela praia ensolarada, perto de Barcelona, acariciada pelas águas
azuis do Mediterrâneo, na véspera de uma viagem de trem para Toulouse,
através dos Pirineus. Em
Acapulco, nas noite iluminadas de um tempo de “mariachis” e rumbeiras, andei
descalço pelas areias macias de Caleta e Caletilla, antes de me aventurar num
passeio de barco pelo mar aberto, até a Baía de Puerto Marques, onde me
deitei em redes pouco confortáveis e comi peixe grelhado. O turismo de praia
concentrava-se então, no México, em Acapulco, porque ainda não tinham
inventado Cancún. Muitos anos depois, eu visitaria aquelas praias
maravilhosas, na Península de Yucatán – bem melhores do que as da Costa do
Pacífico. Conheci
as praias de Valparaíso e Viña Del Mar, até onde desci, procedente de
Santiago. Fiz “jogging” na Praia do Francês, em Maceió. Visitei praias em
Fortaleza e Montevidéu, Miami e Nova Jersey, Parati e Angra dos Reias. Na
Amazônia e na Patagônia. As
praias da minha infância incluem Pizarras, Camboriú e Itajaí, de onde veio a
minha família paterna. (Meu avô, Marcos Konder, foi prefeito de Itajaí
durante 16 anos). Nadei nas águas de Búzios – Ferradura, Ferradurinha –
quando me hospedava na casa dos amigos Paula e Heitor Simões de Oliveira.
Nadei também na Praia do Pepino e na Barra da Tijuca. Mas cresci em Ipanema,
onde morei durante 30 anos. Ali descobri os tatuís, que comia com arroz; as
arraias, lentas e imponentes; os golfinhos; as águas-vivas; os tubarões. Ipanema
me deu as primeiras mulheres, os corpos molhados e as peles bronzeadas.
Ipanema me deu o amor. Rodolfo Konder é jornalista, escritor e
conselheiro da União Brasileira de Escritores.
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